O projeto

No passado dia 20 de março, foi aprovada uma emenda no Congresso dos Deputados que excluía a população do lobo situada a norte do Douro do Listado de Espécies Silvestres em Regime de Proteção Especial (LESRPE), permitindo assim às comunidades autónomas matar lobos. E já foram vários os governos autonómicos que mostraram a sua intenção de executar dezenas de exemplares.

As maiorias parlamentares não podem decidir a vigência das realidades e evidências científicas. A conciliação da presença de grandes carnívoros e pecuária deve reger-se pelo fomento de medidas preventivas, a mediação social, a educação e o peritagem e pagamento ágil dos danos que os lobos causam.

Esta ofensiva legislativa é acompanhada por uma estratégia de desinformação para influenciar a opinião pública através da manipulação dos factos e da ocultação da informação científica. Esta estratégia pretende:

• Disfarçar o verdadeiro objetivo: matar lobos. Para isso, utilizam eufemismos como “controlos de população” e “extração de exemplares”.
• Ocultar as evidências científicas que apontam, com dados e estudos, a espécie como um elemento próprio e valioso dos ecossistemas (regulação de populações de herbívoros silvestres e da prevalência de patógenos).
• Convencer de que matando lobos se resolverão os problemas que ameaçam a pecuária extensiva, que na realidade têm origem no contexto dos mercados económicos e outros de índole socioeconómica e até cultural.
• Propagar falsos alarmes sobre o risco para as pessoas que vivem em territórios com lobos.

Mas não se trata apenas de proteger os lobos. A manobra parlamentar utilizada rompe os quadros legais de proteção da natureza estabelecidos na Lei 42/2007 do Património Natural e da Biodiversidade, e os seus procedimentos regulados de participação pública e administrativa, além dos necessários avais técnicos e científicos. A incorporação da população de lobo situada a norte do Douro no LESRPE ocorreu em 2021, amparada por um parecer do Comité Científico escolhido pelas Comunidades Autónomas e pelo Ministério do Meio Ambiente num processo perfeitamente regulado que permitiu a participação da sociedade civil e das administrações autonómicas. Tudo no âmbito de um processo avalizado pelo Conselho de Estado. O ocorrido constitui um gravíssimo precedente.
Esta ofensiva está a ser liderada por esses setores sociais que têm o negacionismo científico como bandeira e as maneiras autoritárias como forma de proceder. Se esse negacionismo científico teve a crise climática como principal alvo, agora dá um salto ao negar a crise de biodiversidade em que está mergulhado o planeta. E escolheram o lobo, um dos seus principais emblemas. Exterminar o lobo, que é o que pretendem, nunca pode ser a solução para um problema de relação com o nosso entorno natural. Pelo contrário, aprofunda essa crise de biodiversidade. É uma ofensiva essencialmente antidemocrática e anticientífica.

Queremos que esta campanha sirva para aportar recursos a todos os que amamos os lobos e tudo o que significam, independentemente das diferentes sensibilidades que tenhamos nessa ideia. Queremos trazer para a frente a ciência e a consciência, a ética, a democracia e a justiça.